domingo, 6 de outubro de 2013

Era óbvio que havia




Era óbvio. A canção, tão curta e simples, ditava com voz banhada de melodia um segredo. Enquanto os segundos corriam, desvendei-o. Ainda não sei se era ela quem falava por mim ou era eu quem dava sentido a ela. Com os fones no ouvido, formando a imagem de um rosto adorável, tudo aquilo se fundia. Não é um ou outro, não há dois elementos. Vira uma coisa só, uma relação mútua. Uma conversa entre amigas, a música e eu. A canção falando por mim e aquele sentimento temido que, até então, eu desconhecia e nem desconfiava o significado.

Encontro de olhares castanhos e azuis, vibrando com o reconhecimento. Nem em dez anos eu me esqueceria. Fisionomias um pouco mais maduras, ele mais alto e forte, com o mesmíssimo nariz grande e jeito de andar. Poderia até adivinhar que aquele bom moço continuava tão bom quanto eu me lembrava. O mesmo bobo, com as mesmas piadas e coração de criança. Voz agradável, fazendo graça como sempre. Debaixo daquele céu azul, a metros de distância, quis saber o que se passava em sua mente. Eu não tive tempo para formar um pensamento coerente naquele encontro de segundos, mas meu corpo respondia aos estímulos visuais e imaginários. Lá se vai aquele metro e setenta de coisas boas.

Quis saber por onde você andou e o que fazia. É o clichê de todos os encontros saber o que havia acontecido de bom na vida do outro no intervalo dos esbarrões. Se aquela era a melhor coisa que havia lhe acontecido até o momento. Quis enxergar de perto a tatuagem na sua perna direita e descobrir se havia outra escondida em algum lugar. Quis saber se pra você eu havia mudado. Sabia que sim, mas desejava experimentar o gosto de ouvir por sua própria voz. Em detalhes, enquanto me observa com calma, saboreando cada novo traço do meu rosto. Quis saber se você ainda conseguiria me irritar e em quantos minutos alcançaria esse feito. Em quantos segundos conseguiria me fazer voltar a rir. Esse é o tipo de altos e baixos que eu adoraria experimentar novamente. É uma ideia que aprovo saltitante.

O perdi de vista, entre lojas e espelhos. Guardei-o no pensamento. Eu me distraio tão fácil e no final me perco no labirinto sem desfazer os laços. Penso como todo mundo viaera óbvio que havia, e eu nem sabia nada, eu nem desconfiava, tal qual Marisa Monte em meu fone de ouvido. E assim, entre ventos e alguns tempos a mais, espero outro acaso nem tão acaso assim nessa capital de lugares em comum que frequentamos e olhos que gostam de se reecontrar.



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